O aquecimento global é intensificado pela retenção de calor exercida pela gases com efeito de estufa, que atuam quando a radiação solar atinge a superfície da Terra. Essa radiação solar causa um aumento nas temperaturas globais e seu efeito é ampliado em dias claros.
Um estudo recente, realizado por cientistas do Instituto de Ciências Marinhas do CSIC, investiga as consequências da degelo na formação de nuvens. Mas qual é a relação entre esses fenômenos?
Degelo do oceano Antártico
Segundo os pesquisadores do estudo, quando o gelo derrete devido às altas temperaturas, o nitrogênio atmosférico é liberado. Esse nitrogênio atmosférico é um importante precursor para a formação de nuvens. Além disso, o estudo identificou partículas originárias de vida microscópica que habita o gelo marinho e as águas circundantes.
Como é bem sabido, O derretimento das calotas polares está acelerando devido ao aquecimento global e às mudanças climáticas.. Este fenómeno não só contribui para a subida do nível do mar, como também pode promover a emissão de substâncias que auxiliam na formação de nuvens, algo que tem sido analisado em profundidade no contexto da fusão de Larsen C e no Geleira Totten. Essa variável foi ignorada em muitos estudos anteriores sobre o clima polar.
Para entender completamente os impactos desse fenômeno, é essencial uma análise completa das interações entre o oceano, o gelo, a atmosfera e os organismos vivos. Este complexo sistema climático depende de equilíbrios delicados e muitas vezes instável.
Evidências sugerem que, embora o derretimento da neve possa ter efeitos adversos no meio ambiente, também pode ser um fator positivo. Com a melhoria na formação de nuvens, a radiação solar que atinge a superfície da Terra pode ser reduzida, ajudando a moderar as temperaturas globais. Além do mais, Um aumento nas chuvas poderia aliviar a seca em muitas regiões do mundo e promover o crescimento da vegetação, fator a ser levado em consideração no contexto da mudança climática. Essa vegetação também influencia na formação de novas nuvens, criando um ciclo que pode contribuir para um clima mais equilibrado.
O estudo PI-ICE 2019
Um novo estudo, publicado na revista Nature Geoscience, liderado pelo Instituto de Ciências Marinhas do CSIC e pela Universidade de Birmingham, descobriu que o degelo da Antártida reforça a formação de aerossóis na atmosfera, o que por sua vez favorece a formação de nuvens no verão. Esse fenômeno é crucial, pois as nuvens desempenham um papel vital na regulação da temperatura do planeta, refletindo e filtrando a radiação solar. Sem a presença dessas nuvens, o clima global seria dramaticamente mais quente. O processo de formação de nuvens é complexo e é influenciado por diversas variáveis, incluindo a composição dos aerossóis na atmosfera.
Entretanto, apesar da importância dessas dinâmicas na regulação climática, o mecanismo preciso de formação de nuvens é pouco compreendido, limitando a precisão das projeções climáticas futuras.
Para desenvolver este trabalho, a equipe de pesquisa utilizou dados coletados durante a campanha PI-ICE 2019 na Antártida, que durou mais de três meses e foi liderada pelo pesquisador do ICM Manuel Dall'Osto. Esta campanha analisou as partículas suspensas no ar na região que circunda a Península Antártica, o que é essencial para compreender a derretimento histórico do gelo e como o derretimento do oceano antártico influencia a formação de nuvens.
Pesquisadores descobriram que quando as massas de ar se originam da margem do gelo marinho, os episódios de formação de aerossóis são significativamente mais frequentes. Isso ocorre porque essas massas de ar contêm altas concentrações de ácido sulfúrico y aminas, compostos biológicos que interagem para transformar gases em partículas. Esta descoberta é significativa porque, embora o papel do ácido sulfúrico na formação de aerossóis já fosse conhecido, Este estudo confirma o papel essencial das aminas, que são produzidos a partir da degradação da matéria orgânica presente nos microrganismos que habitam o gelo marinho.
A relevância do nitrogênio orgânico
“Sabíamos da importância do nitrogênio orgânico para a formação de aerossóis e nuvens em ambientes terrestres, mas durante a expedição PI-ICE de 2019, conseguimos demonstrar sua relevância na Antártida”, diz Dall'Osto. Esta descoberta não apenas destaca o impacto dos microrganismos do gelo marinho na formação de nuvens, mas também exige uma revisão dos modelos climáticos existentes que subestimam o efeito da vida marinha na regulação do clima.
O estudo mostrou que o aumento do derretimento da camada de gelo do Oceano Antártico durante os verões, impulsionado pelo aquecimento global, pode aumentar a liberação de substâncias formadoras de aerossóis e nuvens. Este fenómeno foi observado num outro estudo realizado no Árctico, que sublinha a necessidade de uma visão holística das interacções entre o oceano, o gelo, a atmosfera e a vida, especialmente no contexto mais amplo da alterações climáticas globais.
A equipe de pesquisa planeja conduzir uma nova expedição científica em 2023 para explorar ainda mais essa complexa maquinaria climática e entender melhor as inter-relações entre os diferentes componentes do sistema climático.
Implicações para o futuro
A Antártida está atualmente passando por uma mudança climática drástica, o que é difícil de prever. Parte desse desafio decorre da falta de compreensão de como as mudanças nos ecossistemas afetarão a formação de aerossóis e nuvens. Os modelos climáticos atuais tendem a subestimar a cobertura de nuvens sobre o Oceano Antártico e, portanto, superestimam a quantidade de radiação solar que atinge essas águas frias, o que é crucial para entender o impacto do derretimento do gelo.
Portanto, a publicação de pesquisas como essa é essencial para melhorar as projeções climáticas futuras. À medida que as alterações climáticas continuam a avançar, é crucial desenvolver uma compreensão mais profunda dos processos naturais que afectam o clima global, incluindo as suas interacções com o meio ambiente. derretimento da Antártida.

Os diversos estudos realizados sobre o tema têm evidenciado a necessidade de colaboração internacional na investigação das alterações climáticas, bem como a importância de investir em campanhas científicas que permitam uma melhor compreensão destes fenómenos complexos, como os estudados no contexto da o aumento de nuvens no Ártico.
A campanha PI-ICE, por exemplo, foi financiada pela Agência Nacional de Pesquisa Espanhola (AEI) e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e envolveu um grupo diversificado de instituições de pesquisa e universidades, refletindo o compromisso global de compreender e abordar as mudanças climáticas.
O derretimento do Oceano Antártico não apenas contribui para a perda de gelo, mas também pode influenciar significativamente a formação de nuvens, um fenômeno que pode ter efeitos positivos e negativos no clima global. É essencial continuar investigando essas dinâmicas para prever melhor o futuro do nosso planeta.