
Na faixa costeira do norte do Chile, entre Caldera e Huasco, surgem verdadeiros oásis onde a vida se agarra firmemente à terra: o zonas úmidas do deserto do Atacama. No meio do deserto mais seco do mundoEssas lagoas, canaviais e fozes de rios sustentam pássaros, mamíferos, répteis e invertebrados, filtram a água e regulam o microclima costeiro.
Este artigo reúne, em detalhes, as informações essenciais para a compreensão e visitação desses ecossistemas: o que são, onde estão e como chegar, quais espécies observar, por que são tão valiosas, quais ameaças enfrentam e como cuidar delas ao percorrer suas trilhas. O percurso nos leva através da Pantanal Carrizal Bajo, a boca do Rio Huasco, o Pantanal Totoral e o Santuário da Natureza na Foz do Rio Copiapó, sem esquecer iniciativas importantes como o Observatório de Zonas Húmidas de Huasco e as recentes declarações de zonas húmidas urbanas.
O que é uma zona úmida costeira e por que ela é importante no Atacama?
Uma zona úmida é uma área de terra que permanece inundada, permanente ou periodicamente, por águas superficiais ou afloramentos subterrâneos. Na costa do Atacama, elas geralmente se formam na foz dos rios ou onde a água sobe à superfície, tornando-se pontos de descanso e alimentação para aves migratórias que atravessam grandes extensões desérticas.
Sua vegetação atua como um filtro natural, melhorando a qualidade da água e gerando umidade que resfria o ar circundante. Em algumas dessas áreas úmidas, até cem espécies diferentes de pássaros, um número notável para uma região tão seca. Além disso, a estrutura da paisagem atenua os ventos e cria refúgios onde a biodiversidade encontra condições para prosperar.

Onde estão e como chegar: a rota costeira entre Caldera e Huasco
O corredor costeiro que conecta Caldera a Huasco contém diversas áreas úmidas essenciais para observação de aves e educação ambiental. Você pode acessar a Rota Costeira pelo norte (Caldera) ou pelo Porto de Huasco e Freirina, e também há uma saída anterior para o Parque Nacional Llanos de Challe conhecida como Rota do Canto da ÁguaÉ uma boa ideia planejar com antecedência, levar água, proteger-se do sol e respeitar as regras de acesso de pedestres em áreas onde a entrada de veículos é proibida.
Várias empresas e guias locais oferecem passeios interpretativos; informe-se sobre os serviços formalmente registrados no Região do Atacama ajuda a garantir visitas responsáveis e de qualidade. Essas experiências também contribuem para a economia local e fortalecem iniciativas de conservação, conectando a comunidade com seu patrimônio natural.
Pantanal Carrizal Bajo (comuna de Huasco): biodiversidade extraordinária
Carrizal Bajo é reconhecido como um hotspot de biodiversidade Em escala global, abriga uma riqueza notável em apenas 57 hectares. Suas águas subterrâneas emergem à superfície, criando um mosaico de lagoas e canaviais onde inúmeras aves marinhas e de água doce descansam e se alimentam. Entre as observações mais impressionantes está o avistamento de um flamingo no ano passado, algo que não acontecia há décadas e um lembrete da natureza mutável desses oásis.
Desde setembro, a zona húmida está classificada como Santuário da Naturaleza, refletindo seu valor e fragilidade. A cidade de Carrizal Bajo é acessível de veículo, mas o passeio pela zona úmida deve ser feito a pé, tomando cuidado para não sair das trilhas. A proximidade com o Parque Nacional Llanos de Challe (a apenas 3,5 km de distância) oferece circuitos que combinam o litoral, o deserto florido em anos chuvosos e a conservação, uma oportunidade perfeita para promover ações conjuntas de proteção.
Foz do Rio Huasco: um gigante semi-salgado
A boca do Rio Huasco Forma uma extensa zona húmida marinho-costeira onde as águas doces e marinhas se encontram, gerando um ambiente semissalino. Isso permite a coexistência de aves de água doce com aves marinhas, aumentando a diversidade: aqui é possível contar até cem espécies de aves em certas épocas do ano.
É um dos poucos zonas húmidas marinhas A ilha é uma das maiores do país, com 451 hectares. Não possui infraestrutura e o acesso é feito exclusivamente a pé pela praia, um trajeto que pode levar cerca de uma hora. Por isso, a responsabilidade do visitante é crucial: não há serviços, passarelas, sinalização e qualquer comportamento inadequado resulta em impactos imediatos. aves, répteis, mamíferos e roedores que dependem da localização.
Pantanal Totoral (Copiapó): pequeno em tamanho, enorme em valor
A sudoeste da comuna de Copiapó, a Pantanal Totoral Protege cinco hectares de vegetação hidrófila e águas costeiras. Uma contagem realizada pelo Serviço Agrícola e Pecuário (SAG) registrou a presença do cisne-coscoroba com filhotes, um evento particularmente significativo, pois é o registro de nidificação mais setentrional desta espécie no Chile.
Junto com esta imagem icônica, em Totoral você pode ver patos-reais e patos-de-crista-vermelha, taguitas do norte, huairavos e outras espécies adaptadas à costa desértica. O pantanal está atualmente avançando no processo de ser declarado Santuário da Natureza, um passo lógico dadas suas características biológicas e seu papel como refúgio em um ambiente extremamente árido.
Foz do Rio Copiapó: Santuário da Natureza e Ciência em Movimento
Ao sul da cidade de Caldera e na costa do Atacama, na foz do Rio Copiapó É um verdadeiro oásis: lagoas costeiras cercadas por densos canaviais onde centenas de pássaros nidificam e descansam, e onde também circulam raposas e pequenos roedores nativos. Desde 2022, seus 115,2 hectares são oficialmente protegidos como Santuário da Naturaleza, um marco que reconhece sua importância ecológica em um ambiente árido.
Os registos prediais mais recentes indicam a presença de mais de 119 espécies de pássaros, entre eles o morcego-de-sete-cores (popularizado por Fiu) e o cisne-coscoroba, que encontram aqui o limite de sua distribuição no Chile. A flora não fica atrás: crescem pelo menos 54 plantas nativas, dezesseis delas endêmicas do país. Estudos com sensores infrassônicos permitiram o registro de três espécies de morcegos que não haviam sido identificadas anteriormente na área, demonstrando que ainda há muito a descobrir nesta região. mosaico da vida.
A pressão humana é intensa, especialmente no verão: lixo acumulado na água ou na praia, cães vadios assediando ou predando pássaros (com picos de bandos devido ao abandono no final da temporada), caminhões entrando na praia, caiaques na lagoa ou motocicletas 4x4 nas dunas adjacentes. São usos não regulamentados que abrem trilhas, destroem a flora e perturbam a fauna. Por isso, a Universidade do Atacama promoveu uma plano de gerenciamento para este Santuário com financiamento do Ministério do Meio Ambiente, cujo administrador será o município de Caldera com apoio técnico da UDA.
O projeto inclui três pilares: definir diretrizes de conservação com a participação das partes interessadas e comunidades locais; implementar o monitoramento da flora, fauna, invertebrados e recursos hídricos (incluindo armadilhas fotográficas e sensores infrassônicos); e implantar Educação ambiental com palestras e workshops para crianças em idade escolar e moradores de Caldera e Puerto Viejo, juntamente com campanhas de divulgação em redes e mídias locais. Declarar um Santuário é apenas o primeiro passo: o crucial é como ele é administrado, quais recursos são utilizados e com quem os acordos são firmados.
Tipos de zonas húmidas presentes na Região do Atacama
Apesar da aridez, a região do Atacama ostenta uma notável variedade de zonas úmidas. Na zona alta andina fria e árida, concentram-se lagoas e prados ligados ao Parque Nacional Nevado Tres Cruces, com sítios como o Lagoa do Negro Francisco e Laguna Santa Rosa, além de corredores biológicos como Pantanillo e Ciénega Redonda. No litoral, destacam-se áreas úmidas ribeirinhas como Carrizal Bajo e as fozes dos rios Copiapó e Huasco.
- Artificial: Construídas pelo homem, a represa Lautaro e a represa Santa Juana funcionam como reservatórios relevantes para a agricultura e fauna dos vales de Copiapó e Huasco.
- Lacustre: com água permanente e baixa circulação, incluem lagoas costeiras (por exemplo, em Carrizal Bajo) e lagoas altas andinas como Negro Francisco, Santa Rosa e Laguna Verde.
Principais serviços ecossistêmicos: água, clima e proteção costeira
As zonas húmidas costeiras do Atacama funcionam como esponjas naturais: Eles armazenam água durante períodos de chuvas intensas, reduzem o risco de inundações e reabastecem as águas subterrâneas por meio da infiltração. Também ajudam a regular a temperatura local por meio da evapotranspiração das plantas e melhoram a qualidade da água ao reter sedimentos e poluentes.
Ao longo da faixa costeira, sua vegetação e geomorfologia atuam como barreiras naturais que amortecem as marés de tempestade e podem até mesmo ajudar a conter o impacto de tsunamis. Soma-se a isso a captura e armazenamento de carbono, uma contribuição direta para o mitigação das alterações climáticas, e seu valor como espaços de educação, pesquisa e turismo de natureza responsável.
Proteção internacional e desafios: da costa ao mar
A proteção formal desses oásis está sendo promovida por meio da ciência e da gestão pública. Algumas propostas se concentraram em quatro zonas úmidas costeiras — a Foz do Rio Copiapó, a Zona Úmida Costeira do Totoral, a Foz do Rio Huasco e a Zona Úmida do Carrizal Bajo — que, em conjunto, foram incluídas em certos documentos em 127 hectareas para fins de sua aplicação. Além do número, a intenção é avançar para designações de alto padrão (como Ramsar) que reconheçam seu valor e implementem medidas eficazes.
A discussão se conecta com a experiência do Chile em áreas marinhas protegidas: a nomeação é necessária, mas insuficiente sem financiamento, supervisão e comprometimento de comunidades, empresas e governos locais. Participação do Chile em áreas marinhas protegidas Convenção de Ramsar Ela reforça essa abordagem integrativa, que conecta o litoral e o oceano, e busca superar ameaças como o desenvolvimento urbano descontrolado, a poluição por resíduos e a entrada de espécies invasoras.
Ameaças e como visitar sem deixar rastros
A melhor maneira de cuidar de áreas úmidas é visitá-las com discrição e respeito. A poluição causada por lixo, cães vadios, ruído, entrada de veículos em áreas sensíveis e o tráfego de motocicletas ou Passeio de 4x4 em dunas As áreas próximas representam problemas reais que afetam diretamente a vida selvagem e a vegetação. No verão, quando o número de visitantes aumenta, esses impactos disparam se não houver autocontrole.
- Não jogue lixo no chão, não jogue pontas de cigarro, não jogue plástico fora; leve tudo de volta com você. A praia e a lagoa não são um depósito de lixo.
- Evite atirar pedras ou perseguir pássaros; respeitar seus ciclos para descansar, alimentar-se e nidificar.
- Não leve animais de estimação soltos: eles podem estressar, ferir ou atacar a vida selvagem nativa; se você estiver viajando com um cachorro, mantenha-o na coleira.
- Reduza o ruído e opte por caminhar; não entre com veículo para setores não autorizados ou abrir novas trilhas.
Estas são medidas simples que fazem a diferença. Em locais sem infraestrutura, como a foz do Rio Huasco, a responsabilidade individual é crucial; suas ações podem evitar tudo, desde a perda de ninhos até a esmagamento de mudas que estabilizam dunas e bordas de lagoas.
Observatório do Pantanal Huasco: um espaço para compreender e desfrutar
Na orla de Huasco, na entrada do pantanal, está previsto um observatório, financiado pelo programa Ciência Pública (Espaços Públicos Regionais) e liderado pelos professores Ximena Arizaga e Osvaldo Moreno. O objetivo é criar um ponto de encontro para explorar e apreciar a paisagem. valores ambientais e culturais da paisagem, com experiências pensadas para a divulgação científica e a formação cidadã.
O projeto inclui uma sala de aula ambiental com piso de cascalho permeável — ideal para atividades educacionais e recreativas — e um conjunto de elementos verticais denominados "florestas de junco e junco", que, em escala ampliada, evocam a arquitetura das fibras pantanosas típicas de zonas úmidas. Essas estruturas projetam sombras dinâmicas e geram microhabitats. Ao redor delas, estações interpretativas Painéis horizontais explicarão a hidrologia, a geomorfologia, a ecologia e a história do pantanal. Bancos estrategicamente posicionados permitirão o descanso, a observação de pássaros e o acesso a novas perspectivas da paisagem.
Zonas húmidas urbanas: avanços recentes e o caso de Kaukari
O Chile tomou medidas significativas ao declarar recentemente quatro novos zonas húmidas urbanas entre o Atacama e o Biobío, resultado do trabalho colaborativo entre comunidades, cientistas e o Ministério do Meio Ambiente. Essas áreas, além de sua biodiversidade, contribuem para a adaptação e mitigação do clima: funcionam como esponjas, capturando carbono e melhorando a qualidade do ar e da água.
Em Talca, as margens dos rios Cajón del Río Claro e Estero Piduco foram protegidas. Esta área úmida ribeirinha de 328,41 hectares abriga aves como o pato-jergão e o pato-de-sete-cores, bem como anfíbios vulneráveis, como o sapo-de-cabeça-encaracolada e a rã-chilena. Em Bío Bío, as lagoas costeiras de Recamo e Redacamo (8,36 hectares) abrigam mais de 40 espécies de aves e peixes nativos, como o peixe-rei chileno. Em Copiapó, o Parque HU Kaukari — o primeiro do gênero em um parque urbano do MINVU — protege 2,4 hectares de flora endêmica (chifre de cabra e pé de guanaco) e fauna como o lagarto Manuel (em perigo de extinção) e o gavião-de-asa-redonda. E em Coquimbo, a Área de Conservação Pichidangui–Los Vilos protege 5,14 hectares, essenciais para espécies como a iguana-chilena e o degu.
Juntamente com essas declarações, estão em andamento campanhas de educação ambiental com oficinas, programas educativos e promoção do turismo sustentável. A autoridade ambiental enfatizou que essas ações só funcionam com colaboração interinstitucional e participação ativa das comunidades, porque a conservação é uma tarefa compartilhada.
Dicas práticas para organizar sua visita
Para aproveitar ao máximo a experiência, combine vários pontos em um único dia se o clima permitir: Carrizal Bajo pela manhã, uma parada para observação do calçadão de Huasco e, se tiver tempo, uma caminhada até o foz do rio Huasco. Deixe seu veículo onde ele pertence e ande devagar: você verá mais pássaros e reduzirá sua pegada.
Em Copiapó, reserve pelo menos meio dia para o Santuário da Foz do Rio Copiapó. Traga binóculos, um corta-vento e, se for verão, protetor solar e bastante água. Saiba mais sobre o oficinas e palestras Elas são realizadas com escolas e moradores locais, uma ótima maneira de entender o local além da foto. Se você contratar um guia, certifique-se de que ele seja registrado e que suas práticas respeitem a vida selvagem.
As zonas úmidas do Deserto do Atacama são frágeis e únicas, e talvez seja aí que reside o seu magnetismo: no fato de que, contra todas as probabilidades, sustentam vida em abundância. De Carrizal Bajo a Copiapó, de Totoral à foz do Huasco, cada uma contribui com uma peça para o quebra-cabeça ecológico da região. Cuidar delas — com gestão, ciência e bom comportamento Visitá-los é a melhor garantia de que eles continuarão sendo oásis de biodiversidade e conhecimento por muitos anos.
